Inspiradas pelo protagonismo feminino, 20 mulheres formam a Cooperativa da Agricultura Familiar dos Sertões de Crateús, que fornece parte das hortaliças que vão para as quentinhas
Por Euziane Bastos
É no município de Crateús, que fica a aproximadamente 350 km de Fortaleza, onde está localizada a sede de uma cooperativa formada apenas por mulheres agricultoras. Trata-se da Cooperativa da Agricultura Familiar dos Sertões de Crateús (Cooperagri), que atua há seis anos com a união de pequenas produtoras da região. Além de fornecer insumos para instituições locais, a Cooperativa iniciou sua colaboração com o Ceará Sem Fome do Governo do Estado desde o final do ano de 2023 e, de lá para cá, colhe os frutos de uma parceria que tem como objetivos principais a garantia e a melhoria da alimentação de milhares de cearenses.
Cristiane Rodrigues é uma das agricultoras que fazem parte da Cooperagri e que fornecem insumos para o Ceará Sem Fome. Ela e seu marido, Hernando, possuem alguns lotes de terra recheados de hortaliças, frutas e animais na zona rural de Crateús, em um distrito chamado Realejo. A principal atividade econômica da família é a agricultura, desde que se todos se entendem por gente. Atividade, essa, que os dois praticam com entusiasmo, quase como uma terapia, segundo o relato da própria Cristiane.

Os principais produtos que são vendidos pelos agricultores às cozinhas Ceará Sem Fome são o cheiro-verde, a pimentinha e o jerimum. Esses três alimentos fazem parte de um cardápio especial do Programa, que é feito a rigor por um grupo de trabalho e é baseado no respeitado Guia Alimentar para a População Brasileira. Dentre os pilares estabelecidos como essenciais para o Programa, está o fortalecimento da agricultura familiar no Ceará, que é onde entra o trabalho realizado por produtoras como Cristiane. ” É muito gratificante a gente saber que a nossa produção está indo para a mesa das pessoas mais carentes. Eu e minha família, a gente entrega cerca de 37 kg de cheiro-verde por semana para o Ceará Sem Fome, pelo preço justo. E o sentimento é de felicidade, de dever cumprido. A gente se sente assim, realizado”, afirma a agricultora.
Protagonismo da mulher agricultora
Nem sempre a Cooperagri foi formada apenas por mulheres, é o que explica a agricultora e atual presidente da organização, Priscila Melo. Após sua criação em 21 de novembro de 2018, a Cooperativa passou por gestões que viram uma oportunidade de dar voz às mulheres produtoras da região que, por vezes, são estigmatizadas por trabalharem na roça. “A gente assumiu esse desafio na diretoria geral da Cooperagri e estamos tentando construir esse processo transformador, especialmente na vida das mulheres agricultoras. O protagonismo da cooperativa hoje é fortalecer e fomentar a ideia das mulheres como um processo de autonomia da sua história e do seu trabalho diretamente na agricultura familiar”, afirma Priscila.

Atualmente, com 20 famílias cooperadas, as 20 mulheres integrantes da Cooperagri são quem representam essas famílias dentro da organização e lidam diretamente com as decisões relacionadas às vendas do que é produzido em suas unidades.
Apesar da relação com o programa Ceará Sem Fome ser recente, já foram comercializados aproximadamente R$ 60 mil. “Esse dinheiro chega de forma justa. A cooperativa faz o processo do contrato, parte do diálogo e toda a parte formal, mas o recurso chega diretamente à agricultora familiar”, explica Priscila.

Ceará Sem Fome
O Programa Ceará Sem Fome segue investindo na agricultura familiar do nosso Estado. Até novembro de 2024, o programa já tinha adquirido 1 milhão e 337 mil quilos de alimentos para o uso nas cozinhas. Um investimento de mais de R$ 11 milhões em 107 municípios.
Somado a isso, o programa possui três frentes emergenciais: o cartão no valor de R$ 300, que atende mais 53 mil famílias; as mais de 1.300 cozinhas, com mais de 125 mil refeições diárias; e as campanhas que já arrecadaram mais de 170 toneladas de alimentos em grandes eventos.
Mais do que o alimento, o Ceará Sem Fome agora também atua no eixo +Qualificação e Renda para que o(a)s beneficiário(a)s tenham chance de um emprego formal ou de alcançar sua autonomia financeira por meio do empreendedorismo.