País estava no mapa da fome desde 2019, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
Texto por Euziane Bastos/Ascom Ceará Sem Fome
Fotos por Larissa Morena/Ascom Ceará Sem Fome e George Braga
O Brasil voltou a sair do mapa da fome, segundo dados apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) nesta segunda-feira (28). O resultado reflete a média trienal 2022/2023/2024, que colocou o país abaixo do patamar de 2,5% da população em risco de subnutrição ou de falta de acesso à alimentação suficiente.
As informações estão no Relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025 – SOFI 2025, lançado pela FAO durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU (UNFSS+4). A primeira vez que o país saiu do mapa da fome foi em 2014, resultado da queda de aproximadamente 82% na população em situação de subalimentação. O retorno à condição aconteceu de 2019 a 2022, devido a retrocessos na segurança alimentar ocasionados pela crise econômica e pela pandemia de Covid-19. A retirada do mapa foi alcançada em apenas dois anos.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, comentou que o resultado superou as metas propostas pelo Governo Lula. “Sair do Mapa da Fome era o objetivo primeiro do presidente Lula ao iniciar o seu mandato em janeiro de 2023. A meta era fazer isso até o fim de 2026”, disse. “Mostramos que, com o Plano Brasil Sem Fome, muito trabalho duro e políticas públicas robustas, foi possível alcançar esse objetivo em apenas dois anos. Não há soberania sem justiça alimentar. E não há justiça social sem democracia”, completou.
Investimento em políticas públicas
A saída do Brasil do Mapa da Fome é resultado de decisões políticas do governo brasileiro que priorizaram a redução da pobreza, o estímulo à geração de emprego e renda, o apoio à agricultura familiar, o fortalecimento da alimentação escolar e o acesso à alimentação saudável. Os números nacionais da fome, captados por meio da aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) nas pesquisas do IBGE, mostraram que, até o final de 2023, o país retirou cerca de 24 milhões de pessoas da insegurança alimentar grave.
No âmbito estadual, o Programa Ceará Sem Fome, do Governo do Estado, faz coro aos esforços federais no combate à fome. A iniciativa permanente possui três frentes emergenciais: o cartão no valor de R$ 300, que atende cerca de 50 mil famílias; as mais de 1.300 cozinhas, com mais de 130 mil refeições diárias; e as campanhas que já arrecadaram mais de 370 toneladas de alimentos em grandes eventos.
Além de atuar no eixo +Qualificação e Renda para que beneficiários e beneficiárias tenham chance de um emprego formal ou de alcançar sua autonomia financeira por meio do empreendedorismo. Desde a criação do eixo, em 2024, mais de 10 mil pessoas já foram qualificadas para o mercado de trabalho e para o empreendedorismo.
O investimento em políticas públicas que atendem às necessidades emergenciais e não emergenciais da população em insegurança alimentar no Ceará pode ser traduzido em resultados como os divulgados pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Suplementar Anual da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Conforme o levantamento, o Ceará atingiu, em 2024, o menor índice da série histórica desde 2012. Na prática, mais de 275 mil cearenses saíram da extrema pobreza nos últimos dois anos, sendo mais de 135 mil somente no último ano, de 2023 para 2024.
Em 2023, o percentual de domicílios em situação de segurança alimentar no Ceará voltou a subir. Pelas estimativas do IBGE, o Ceará tinha 3,3 milhões de domicílios particulares permanentes. Dentre estes, 64,9% tinham acesso a alimentação adequada. Percentual maior do que a média da região Nordeste (61,2%).
Um outro dado importante é o do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Emprego e Trabalho, que informou que mais de 3 mil beneficiários do Programa Ceará Sem Fome conseguiram emprego formal em 2024, sendo 1.072 de janeiro até maio de 2025.
Perguntas e Respostas sobre o Mapa da Fome
1. O que é o Mapa da Fome da FAO/ONU?
O Mapa da Fome é um indicador global da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que identifica países onde mais de 2,5% da população sofre de subalimentação grave (insegurança alimentar crônica). Estar no Mapa da Fome significa que uma parcela significativa da população não tem acesso regular a alimentos suficientes para uma vida saudável.
A FAO adota alguns indicadores para monitorar a situação alimentar nos países no âmbito da Agenda 2030 dos ODS: o indicador Prevalência de Subnutrição (Prevalence of undernourishment – PoU) é o utilizado na construção do Mapa da Fome. Esse indicador identifica, em cada país, o percentual da população em risco de subnutrição, isto é, que não tem acesso regular a alimentos em quantidade suficiente para uma vida saudável. Se esse percentual ficar acima de 2,5% da população, isso significa que o país está no Mapa da Fome.
2. Como é feito o cálculo que coloca ou retira um país do Mapa da Fome?
O PoU é calculado a partir de três variáveis: quantidade de alimentos disponíveis no país, considerando produção interna, importação e exportação; o consumo de alimentos pela população, considerando as diferenças de capacidade de aquisição (a renda) e a quantidade adequada de calorias/dia, definida para um “indivíduo médio” representativo da população.
Estimada a quantidade total de alimentos disponíveis no país, calcula-se como ela se distribuiria entre a população, considerando que essa distribuição não é igualitária, mas varia de acordo com a renda que os indivíduos têm para adquirir alimentos (os mais pobres, por exemplo, têm menor capacidade aquisitiva). Por fim, calcula-se, dada essa distribuição, o percentual da população que não teria acesso a alimentos em quantidade suficientes (kcal/dias) para uma vida saudável. Se esse percentual ficar acima de 2,5%, o país está no Mapa da Fome.
O Relatório da FAO divulga esse indicador sempre na forma de médias trienais (três anos). No caso do Brasil, a média 2022/2023/2024 do PoU ficou abaixo de 2,5%, mesmo com o ano crítico de 2022. Por isso, o Brasil agora em 2025 saiu do Mapa da Fome.
3. De quanto em quanto tempo os dados do Mapa da Fome são atualizados?
A FAO publica relatórios anuais, mas a classificação no Mapa da Fome é baseada em médias móveis de três anos para evitar distorções por eventos pontuais (como crises econômicas ou climáticas). A cada nova edição do Relatório da FAO, os números do ano anterior podem ser revisados, em função da disponibilidade de dados mais atuais.
4. Quais são os indicadores usados no Brasil para direcionar as políticas públicas, além do Mapa da Fome?
Depois de um hiato estatístico, em que indicadores importantes para o acompanhamento da segurança alimentar deixaram de ser coletados, o Brasil voltou a contar com dados sobre a incidência da fome no país. Os números de referência para políticas de combate à fome continuam a ser aqueles produzidos pela aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) nas pesquisas domiciliares oficiais do IBGE (PNAD Contínua e Pesquisa de Orçamentos Familiares). A partir dessas pesquisas, são aferidos dados de renda e pobreza, essenciais para identificar e situar grupos sociais vulneráveis à fome, tendo em vista a forte associação entre a insuficiência de renda e a insegurança alimentar.
O IBGE realiza ainda a Pesquisa Nacional de Saúde, que oferece dados para monitorar indicadores de saúde relacionados à alimentação. Além disso, o acompanhamento nutricional de crianças beneficiárias do Bolsa Família, realizado pelas equipes da estratégia Saúde da Família (eSF) e pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), gera dados periódicos e atualizados, por município, que permitem identificar problemas de má nutrição (de magreza acentuada à obesidade) nesses grupos. Na Saúde, há também a Triagem para Risco de Insegurança Alimentar (TRIA), iniciada em novembro de 2023, que capta, por meio de duas perguntas da EBIA aplicadas nas UBS e pelas equipes da eSF, família em risco de insegurança alimentar. Elas passam a ser acompanhadas e recebem encaminhamento para políticas de transferência de renda e acesso à alimentação.
Por fim, o Cadastro Único para Programas Sociais, do MDS, começou a ser usado para mapear, por meio de uma projeção estatística, o percentual de risco de insegurança alimentar grave, por município, das famílias inscritas no CadÚnico, tendo como referência indicadores captados a partir da EBIA nas pesquisas domiciliares do IBGE.
5. O que é o Relatório SOFI?
Anualmente, a FAO apresenta o número principal de pessoas subnutridas em todo o mundo, ao mesmo tempo em que defende estratégias contra a fome e a desnutrição. Após a publicação do relatório global, uma grande quantidade de estatísticas é desagregada em relatórios regionais. O SOFI é produzido em conjunto com agências da ONU como FIDA, UNICEF, PMA e OMS. Link para acessar o relatório aqui.